Resenha | Luanda, Lisboa, Paraíso
Foi após ouvir o episódio 9 do podcast da Revista 451 que decidi realmente ler Djaimilia Pereira de Almeida. O podcast (que ouvi em janeiro de 2020) traz uma entrevista com a escritora portuguesa. De lá pra cá, outras leituras foram priorizadas e “Luanda, Lisboa, Paraíso” ficou para a reta final deste ano.
O nome do livro, vencedor da edição 2019 do Prêmio Oceanos, faz referência aos três momentos em que a narrativa é contada. Inicialmente, um casal de angolanos (Cartola e Glória) que reside em Luanda vê a vida se transformar a partir do nascimento do segundo filho. O calcanhar esquerdo do menino nasceu malformado e o pai, “tentando resolver o destino com a tradição”, batizou a criança de Aquiles.
Os médicos consultados pela família explicaram que o problema no calcanhar de Aquiles poderia ser resolvido se ele fosse operado até os 15 anos, o que aconteceria em 1985. Diante da frágil saúde de Glória, acometida por uma crescente paralisia, Cartola precisa cuidar da criação dos filhos Aquiles e Justina com apoio de outras mulheres da família.
Em 1984, Cartola parte para Lisboa com o filho, para que o rapaz se submeta às cirurgias necessárias. A pensão Covilhã, próxima ao Hospital Ortopédico do Alvor, se torna a casa deles na capital portuguesa. Cartas e ligações rápidas são usadas para dar notícias à Glória de vez em quando.
“Todos os Cartola de Sousa se viram adiados pela doença. Cartola pôs-se entre parênteses por Glória e mudou a vida por causa do calcanhar do filho. Justina deixou os sonhos pela mãe, tornada dona de casa quando o pai e o irmão partiram para Lisboa. Aquiles foi atravessado pelo calcanhar malformado, que deixou Cartola às suas costas”. (p. 104)
Pai e filho vão morar no bairro do Paraíso após 5 anos na Pensão Covilhã, onde não deixaram amigos. Tem início a terceira etapa da narrativa, marcada pela forma como a autora constrói a amizade entre Cartola e o taberneiro Pepe, dois imigrantes que encontram apoio um no outro para viver os desafios impostos pela vida fora de suas pátrias. “Luanda, Lisboa, Paraíso” é, afinal, a história das viagens externas e internas de pai e filho que se transformam aos nossos olhos, página após página.
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