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Resenha: Kindred - Laços de sangue



Transportar-se de um tempo para outro é uma premissa antiga quando se trata de ficção científica. Também não era nenhuma novidade em 1979, ano em que o livro “Kindred – Laços de sangue”, da Octavia Butler, foi publicado. No entanto, a primeira autora negra a ganhar notoriedade na ficção científica soube aproveitar o gênero literário que tanto a fascinava para construir tramas que, além de envolventes, dialogassem com questões sociais (e aqui incluo, especialmente, raça, gênero e meio ambiente).


A protagonista de Kindred, Dana, é uma mulher negra acostumada a viver livremente na Califórnia dos anos 1970. De maneira súbita e inexplicável, ela é transportada para uma fazenda no estado de Maryland (EUA), na primeira metade do século XIX, numa sociedade marcada pela discriminação racial.


O pano de fundo para a maior parte da história é o período que antecede a Guerra de Secessão, conhecida ainda como Guerra Civil Americana. Entre 1861 e 1865, os Estados Confederados do Sul (escravistas) enfrentaram os legalistas da União do Norte, que defendiam, entre outras coisas, o fim da escravidão em todo o território dos Estados Unidos.


Imagine quantos desafios (e perigos) esperam uma mulher negra que, de repente, é transportada para uma sociedade que a rejeita. Além disso, Dana empreende um mergulho em suas origens familiares e precisa agir para garantir a existência de sua família – e dela mesma – no futuro.


A narrativa em primeira pessoa favorece a construção psicológica da protagonista e, com isso, o leitor sente muito de perto todos os medos e coragens que fazem parte de Dana. Ao longo de mais de 400 páginas, Octavia Butler usa a ficção para apresentar um panorama muito real sobre o que foi a escravidão nos Estados Unidos, sem nos poupar da realidade dura e sangrenta.


As incursões ao passado vão revelar muitos segredos à Dana, provocar reflexões e deixar marcas que ela carregará para sempre.


Sobre a autora – Octavia nasceu em 1947, na Califórnia. Era filha de um engraxate e uma empregada doméstica. Foi a primeira mulher negra a conquistar sucesso na ficção científica, área tão dominada por homens brancos. Apesar da escrita consistente e do teor revolucionário das obras, não chegou a ser tão famosa em sua época.


Usou a literatura para dar vida a heroínas negras e explorar temas como raça, empoderamento feminino, divisão de classes, sexualidade e escravidão. Como ela mesma disse, decidiu escrever sobre poder por ser algo que estava pouco presente em sua vida.


Octavia foi ganhadora do Nebula, importante premiação de Ficção Científica, em 1984 e 1999. Faleceu em 2006, aos 58 anos. Desde então, as vendas de seus livros aumentaram exponencialmente.


Lendo Mulheres Cuiabá – Kindred foi publicado em português em 2017 e chegou às minhas mãos em 2018. Costumo dizer que gostei tanto da obra que a devorei. Decidi escrever sobre ela agora por se tratar de um dos livros escolhidos para as reuniões deste semestre do Lendo Mulheres Cuiabá. A reunião sobre Kindred será realizada no dia 28 de abril, às 19h (horário de Cuiabá), pelo Google Meet. Ou seja, ainda dá tempo de ler e participar conosco. Acompanhe o Instagram do projeto para saber mais.

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