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Resenha: Mrs. Dalloway - Virginia Woolf

Sabe quando a vida atinge seus tons mais teatrais? É geralmente nessas ocasiões que somos levados a ser o que não somos, a desempenhar papéis que provocam tensões, forçam sorrisos, deixam os ombros duros e travam qualquer espontaneidade. “Mrs. Dalloway” é, sobretudo, a respeito dessa teatralidade e do que representa questionar as engrenagens sociais às quais uma pessoa é submetida (e se submete).


Clarissa Dalloway acorda para um novo dia e decide que ela mesma irá comprar as flores. Não delegará a atividade para o marido ou para algum dos empregados da casa. Ela é uma mulher de 52 anos incomodada com a vida apagada que leva. No caminho que percorre a pé pela cidade para comprar as flores, a protagonista reflete, entre outras coisas, sobre a esquisita sensação de invisibilidade pela qual é acometida. “Ser esta Mrs. Dalloway; nem mais Clarissa; Mrs. Dalloway somente”.


O casamento com Richard moldou a vida e escreveu o destino da personagem. A obra de Virginia Woolf, lançada em 1925, acompanha um dia inteiro na vida da protagonista, refletindo as manias, decadências e contradições da elite londrina da época. E não se trata de um dia qualquer: Clarissa se prepara para dar uma recepção em casa, o lugar será invadido por amigos e conhecidos da família.


Virginia Woolf utiliza a técnica narrativa do fluxo de consciência e costura os pensamentos de diferentes personagens. É dessa forma que conhecemos Clarissa, Richard, Peter, Elizabeth, Rezia, Septimus, Doris Killman, Hugh, Lucy, entre outros.


Clarissa se prepara para mais um ato marcado por protocolos, convenções sociais e muita teatralidade. Ela separa o vestido verde, se preocupa com o menu e a decoração, repassa a lista de convidados, confere se a prataria está realmente brilhando. Em meio aos preparativos, pensa na vida que construiu, nas amizades, nas escolhas, nas relações que se transformaram ao longo do tempo.


Na manhã daquele dia, ela recebe a visita de Peter Walsh, um antigo pretendente que regressou da Índia. A presença dele é, ao mesmo tempo, perturbadora e revigorante. Por isso, Mrs. Dalloway acaba por convidá-lo para a festa, porque ainda deseja tê-lo por perto e reviver o turbilhão de sensações que mudam o dia e a vida, tirando-os da mesmice.


Clarissa também carrega suas futilidades, arrogância, soberba, mesquinhez, preocupações exageradas com posição social e tudo isso passa diante do leitor. Virginia não quis construir uma mocinha, nem uma vilã. Ao escancarar as imperfeições da protagonista, a autora atribui tons de humanidade a ela e, com isso, aproxima quem lê.


Paralelamente à vida dos Dalloway e aos preparativos da recepção, conhecemos a história de Septimus Warren Smith, um homem que teve a existência marcada pela guerra. Não foi mais o mesmo desde que voltou. Tem exaltações, conversa sozinho, diz ver e ouvir companheiros de guerra que morreram, relata o desejo de se matar. A mulher dele, Rezia, procura ajuda médica porque não suporta ver o marido em tal condição.


As histórias de Clarissa e Septimus Warren Smith se conectam no romance e refletem assuntos existenciais que permearam a vida de Virginia Woolf e, como não poderia ser diferente, desaguam nas páginas de “Mrs. Dalloway”. O clássico, mais do que tudo, é uma reflexão sobre relações, escolhas e busca de sentido para a vida.




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